Aqui os nossos leitores terão conhecimento sobre a vida e obra de IMORTAIS do SAMBA, isso não significa necessariamente que esses imortais são pessoas conhecidas da mídia. O Prêmio Machine usou como critério para ser um WIKBAMBA a relevância da pessoa no mundo do samba, e nestes arquivos podem conter dados pessoais e/ou histórias pitorescas do mundo do SAMBA e do CARNAVAL.

 

CANDONGA – José Geraldo de Jesus, o Candonga, era baiano da cidade de Santo Estevão. Com o desejo de uma vida melhor para si e sua mãe, se alistou na Marinha, realizando o sonho de conhecer e viver na Cidade Maravilhosa, onde desembarcou em 1936. Na Marinha surgiu a ideia de lutar Boxe, a fim de melhorar seu salário, e lá recebeu o apelido carinhoso dos amigos de ‘Kid Candonga’. Tornou-se Campeão Brasileiro de Boxe, na categoria Peso-Pesado, pelo Fluminense. Ficou na Marinha por oito anos. De marinheiro e boxeador, Candonga, tomou-se segurança de boates como Vogue, Casa Blanca, Night and Day, Canecão etc., e, no período da ditadura, trabalhou como segurança de pessoas famosas e políticos como Darcy Ribeiro, Brizola, Oscar Niemeyer e Luiz Carlos Prestes. E, ainda, foi considerado um dos homens de confiança do Presidente Vargas que na intimidade o chamava de baianinho. Em pouco tempo foi capaz de fazer amigos famosos como Jaguar, Albino Pinheiro e Paulo Stein. Ajudou na organização dos desfiles das escolas de samba do carnaval carioca desde quando eram realizados na Av. Rio Branco, Presidente Vargas e por último na Marquês de Sapucaí. Na década de 50, foi trabalhar na secretaria de Turismo, contratado pela Riotur, onde atuou por 15 anos. Foi o guardião oficial da chave da cidade, aquela que o prefeito entrega ao Rei Momo na abertura do carnaval. Com sua ousadia e criatividade o próprio Candonga mandou confeccionar a chave da qual era guardião oficial. Com mais de 40 anos de carnaval, foi responsável pela fiscalização e organização das baterias das escolas de samba durante os desfiles. Sempre pronto a dar uma ’toalhada’ em quem viesse atrapalhar o desfile (o hábito de andar com a toalha no ombro começou na Marinha). Tinha trânsito livre em todas as escolas de samba. Candonga era o único sujeito do mundo com a permissão da Riotur para estacionar seu carro atrás do chamado “segundo recuo da bateria”, e, também, era o único a poder levar garrafas e copos de vidro para a avenida. Levava copos de água mineral e litros de Cravo Escarlate, uma bebida misteriosa, criada por ele e, reza a lenda, capaz de levantar a baqueta do mais exausto ritmista. Segundo o dicionário Aurélio, Candonga é intriga, mexerico e, ao mesmo tempo, afagos e mimos. No mundo do samba, o verbete ganha outra definição: um mulato de 1,84 m de altura e 130 quilos, que infelizmente não foram suficientes para vencer um câncer no estômago. Aos 77 anos de idade, em Março de 1997, o peso pesado de simpatia, generosidade e humildade nos deixou.

 

CARLINHOS BRILHANTE – Carlos Antônio do Nascimento foi rebatizado como Carlinhos Brilhante, lá pelos idos dos anos 70, em sua passagem pela agremiação Em Cima da Hora. Pai de três filhos e filho de uma lavadeira. Na infância morou na Glória, na Rua Cândido Mendes, foi lá que começou nos blocos e passou a frequentar as escolas de samba, começou na Unidos do Jacarezinho, em 67, tocava bateria e repinique. Como Mestre-Sala começou em 77. Nos anos 90 deu aula de Mestre-Sala junto com o Mestre Manoel Dionísio. Quando fala sobre si mesmo de como tudo começou Brilhante resume: – “Eu tocava bateria, repinique, mas o meu sonho era ser mestre-sala. Eu olhava e achava bonito. E lá me deram uma roupa de cetim, um sapato, e disseram: “- Carlinhos você vai desfilar na escola.” E eu caí dentro e me dei bem! Todo mundo disse que eu dançava bem e que (ao) invés de ser ritmista eu deveria ser um grande mestre-sala.”.

Trajetória nas Escolas

1967 – Unidos do Jacarezinho – Ritmista e estreou como Segundo casal

1977 – Acadêmicos do Miguel Couto – Segundo casal

1978 – Em Cima da Hora – Segundo casal 

1981 – Unidos de Nilópolis – Segundo casal 

1980 a 1982 – Acadêmicos do Salgueiro – Segundo casal

1983 a 1994 – Unidos de Vila Isabel – Começou como segundo casal e, em seguida, passou a primeiro. 

1986 e 1987 – Arco-Íris (Belém do Pará) – Primeiro casal

1996 – Engenho da Rainha – Segundo casal

2000 – Portela – Harmonia de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

2001 – Portela – Desfilou ao lado de Dodô

2002 – Império do Serrado (Brasília) – Segundo casal 

2004 – Império do Morro (Mato Grosso do Sul) – Segundo casal

 

REGINA D’OGUM – Regina nasceu em Feira de Santana – Bahia, apesar de não revelar exatamente a sua idade, dá dicas que já passou dos 60. Veio para o Rio de Janeiro com 06 meses de idade, vive na Cidade de Deus há 51, e o carnaval entrou na sua vida aos 10 anos. Coração azul e branco da Portela, com um carinho especial pela Mangueira. Começou como passista, depois foi para as alas, passou para as alas coreografadas, dali pulou para carro alegórico e, há 18 anos, desfila como baiana nas escolas de samba do grupo especial e das séries A e B. Contando com a Intendente Magalhães, já desfilou em um mesmo ano em 23 escolas. Quando é perguntada se tem algum ensinamento a passar para as futuras baianas que vem por aí, Regina responde: – Às baianas que estão chegando agora, sinaliza que a regra é a mesma desde que existe Escola de Samba: “Tem que ter o compromisso de ensaiar, cantar e fazer uma boa apresentação. Antigamente não se podia sair em várias escolas, hoje pode, mas isso não significa que não precisa se comprometer. O respeito é tudo, não só no samba, é na vida também!”.

 

TIA CIATA – Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, foi iniciada no Candomblé em Salvador, onde nasceu, filha de Oxum. Migrou para o Rio de Janeiro, acompanhando a torrente de baianos que vinham nos navios erguendo a bandeira branca para sinalizar para a Pedra do Sal que estavam chegando. Tia Ciata teve quinze filhos e os criou através de seus negócios de doces e aluguel de roupas. Dava muitas festas, o samba raiado, com mote e partido alto, o samba corrido, riscado nos pés e o samba de roda, que era constantemente perseguido pela polícia. Para promover essas reuniões, as baianas pediam licença à polícia para fazer um baile, um chá dançante. Então se dava na sala da frente, o baile e, nos fundos do quintal, o samba. Tia Ciata, cozinheira de mão-cheia da culinária afro-baiana, reunia à sua volta os melhores músicos negros da época. Com a proliferação dos ranchos no Rio, Tia Ciata recebeu de Miguel Pequeno (um dos que acolhiam em sua casa, baianos recém-chegados ao Rio), os papéis com licença da polícia para fundação do rancho Rosa Branca. Ela investia o que ganhava na expansão e desenvolvimento de sua comunidade, fortalecendo seus vínculos institucionais da vida no santo e no trabalho, tanto que ela aceitou curar uma ferida crônica do então Presidente da República, Wenceslau Brás, com seus conhecimentos das folhas, adquiridos no candomblé. Uma vez curado, o Presidente, em agradecimento, nomeou o marido de Tia Ciata para ocupar um posto no Gabinete do Chefe de Polícia. Esta nomeação e este contato com a Presidência permitiram que a casa de Tia Ciata e de outras Tias e Terreiros ficassem afastados das perseguições policiais. Tia Ciata faleceu em 1920, e até hoje é lembrada e homenageada pelo mundo do samba e do candomblé.