Por Célio Santos

Silêncio… concentração… Corpos trêmulos, coração acelerado, respiração ofegante, audição plena e olhos atentos…

Senhoras e senhores, vem aí… mais uma grande obra musical.

No mundo da dança é inevitável a expectativa de um público ansioso e exigente, que querem apreciar a apresentação de um trabalho perfeito e para isso acontecer, requer muita disciplina e dedicação de cada bailarino, contudo esses momentos, promovem reações de nervosismo, tensão, medo e ao término do espetáculo…

Ufa!!! Finalmente, todos se abraçam é a sensação do dever cumprido…

Os mestres da dança afro e coreógrafos em geral, elaboram movimentos inovadores e surpreendentes, criando o impacto positivo ao espetáculo apresentado.

Cada movimento revela uma leitura dinâmica e conta a história na forma mais fiel, onde se criam também, o clima de satisfação e entusiasmo, acompanhados pelo som provocado por excelentes percussionistas, que seguem com desenvoltura o ritmo da obra musical, sob comando de um mestre.

E assim num grande teatro fechado ou em céu aberto, artistas desvendam histórias, lendas e contos fascinantes que conquistam a paixão pela dança.

E toda essa fascinação em mim veio de berço, minha família adorava os festejos  Carnavalescos e nesse meio social fui crescendo, já aos quinze anos fui convidado a fazer aula  de dança na escola pública e comecei a participar de todas as apresentações dos festejos escolares, aos dezenove anos, no quartel, conheci alguns amigos que me levaram para fazer teste numa ala coreografada no Salgueiro,  o coreógrafo atendia pelo apelido  de Baiano que juntamente com suas assistentes China e Argentina, avaliavam os novatos do grupo, logo no primeiro ano me tornei um desfilante e aumentei meu ciclo de amizades, tudo era novidade e fascinante, foi em uma das apresentações na Marquês de Sapucaí, que conheci aquela que posteriormente se tornaria a minha primeira professora de dança afro, Professora Vera Motta, que com uma energia de invejar à qualquer um, coordenava com maestria toda a aula Afro, fui seu aluno por muitos anos e com a mesma participei de concursos musicais onde inclusive um deles, ganhamos o prêmio. Saudades…

A paixão pela dança me levou a conhecer outros excelentes profissionais da dança afro, os quais tb fui aluno, como: Mutalla (in memoriam), Charles Nelson, Jerônimo, Ney Andrade, Aninha Catão, Fabio Batista e Katia Bezerra…

Os convites para participar de comissão de frente e alas, veio através do coreógrafo Déo e também da coreógrafa Argentina e logo me vi em meio aos grandes coreógrafos da época, como: Rui (in memorian), Ilana Xavier, Sandryne, Julio Cesar, participando inclusive de vários desfiles de protótipos…

Com o passar do tempo, me apresentaram o Mestre Ubiratan Barbosa Xavier, Criador do Grupo Bira Dance, que consentiu a oportunidade de participar do seu Grupo de dança, onde me encontro até hoje, inclusive, Bira Xavier é meu padrinho de ala junto com a inesquecível ex-rainha de bateria da Lins Imperial, Kelly que é minha madrinha.

Ah!! quantas histórias para contar dessa linda família GBD e por isso, criei junto com minha irmã Célia Regina, a Velha Guarda Bira Dance…

Surgiu a oportunidade de coreografar uma ala no GRESE IMPÉRIO DA TIJUCA, (ala dos coletores de tomate), contei com a ajuda de vários amigos que me incentivaram e surgiu a ala Raízes Brasileiras e já no primeiro ano de desfile, recebi muitos elogios por ter sido uma obra alegre em que os componentes brincavam de dançar na marques de Sapucaí.

Durante toda essa trajetória conheci aquele que se tornou um grande irmão, o carnavalesco Sandro Gomes, meu incentivador, orientador e excelente amigo, que  confiou em mim, para desempenhar diversas  funções , como:  Diretor de passistas por três  anos ( GRES Renascer de Jacarepaguá), Coreógrafo de comissão de frente por dois anos ( GRES Arrastão de Cascadura), Destaque principal dos carros alegóricos, por 5 anos, (GRESE Império da Tijuca/UPM), fui tb destaque no GRES Sossego e Sereno de Campo Grande… Responsabilidades que nunca desapontei as agremiações e sempre cumpri com as solicitações de acordo com o enredo.

Hoje, me encontro realizando diversos cursos de carnaval com o Jornalista Anderson Baltar, (Rádio Arquibancadas), ora presenciais, ora por vídeo conferências, onde a vivência que adquiri ao longo dos anos nos carnavais, servem para compreender melhor, os valores desses nossos eternos professores de dança-afro e coreógrafos em geral, que dão o sangue para elaborar e criar o melhor para ser admirado pelos amantes da festa.

Convidado pela presidente do Prêmio Machine, Sra Cátia Calixto, o meu nome, foi incluído no seleto grupo de julgadores dos desfiles da Intendente Magalhães, por indicação do amigo, professor e apresentador Paulo Alcântara, que me presenteou e sou muito grato pelo reconhecimento.

Muito bom citar também, que há dez meses, fui contemplado para ser programador na www.webradiobela.com.br, projeto criado pelo Jornalista Luiz Borges, com duas programações voltadas para os artistas em geral, alguns desses ilustres, ficam nos bastidores e não são revelados pelos seus belíssimos trabalhos e o outro sobre carnavais antigos, respectivamente programas: “Falando do artista” e “Conversas e Batuques”. Tudo em prol de manter acessa a chama dos carnavais de outrora e também enaltecer os carnavais atuais.

Carnaval exige um preparo físico exaustivo para todos os envolvidos e para que tudo saia de acordo com o sonho de ver a sua escola campeã, pois profissionais se empenham ao máximo, mas se não for campeã… Posso afirmar que somos  muito felizes por estarmos sempre rodeados de amigos do melhor evento do mundo.

Toda reverência descrita é uma forma que encontrei para agradecer aos talentosos profissionais que me agraciaram na vida carnavalesca, confesso que tive a honra de ser um aluno atencioso, sou eternamente grato aos ensinamentos.

5, 6, 7 e…. 8, Percebi que esta contagem, faz parte da minha vida, pois tenho a responsabilidade de continuar a coreografar a ala Raízes Brasileiras e agradeço ao Presidente Tê, sua esposa Cristina, carnavalesco Guilherme Estevão e ao meu querido amigo Machine (síndico) que favorece aos ensaios na passarela do samba.

Para finalizar, sou carioca, Enfermeiro atuante e Fisioterapeuta, professor de enfermagem, ator formado pela Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro, com várias peças teatrais apresentadas, meu coração bate mais forte pelo GRESE Império da Tijuca, tenho 64 anos, bem vividos… Graças aos amigos que conquistei e a arte de fantasiar os sonhos, pois são momentos mágicos que o carnaval nos oferece e assim vamos vivendo por amor ao que chamamos de felicidade.

Se me perguntarem: Algo te entristece na esfera do carnaval?

Responderia: – Sim, a desvalorização de muitos professores de dança-afro e coreógrafos, que se empenham e que fazem a festa acontecer com muito mais vibração e calor humano… Mas enfim…

Temos ciência, que exigências e cobranças são feitas, os professores executam suas obras com muita dedicação e o público se levanta, aplaude, vibra… ao reconhecer os belíssimos trabalhos elaborados por esses artistas, vejo que é este o verdadeiro reconhecimento à esses profissionais maravilhosos dos nossos carnavais…

E vamos lá… mais uma vez… 5, 6, 7 e… 8.