Por Laerte Gulini

CURRÍCULO PROFISSIONAL LAERTE GULINI

Nem só de sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, vivem os desfiles das escolas de samba. Existe um carnaval, curtido por um povo que não tem condições de pagar para ver os desfiles do sambódromo,  com desfiles de escolas de samba e com as mesmas características das escolas tidas como “grandes”, mas em proporções menores e que, mesmo assim, empolga com as presenças das comunidades das escolas. Trata-se dos desfiles das escolas de samba dos grupos de acesso da Estrada Intendente Magalhães em campinho, conhecido como o carnaval da Passarela do Povo. São cerca de 50 escolas de samba desfilando nos dias de carnaval, que movimenta quase a mesma quantidade de profissionais para preparar os desfiles do sambódromo.

Quem assiste os desfiles do “carnaval do povão”, ficando maravilhados com os desfiles destas escolas, não imagina o sufoco que os artistas carnavalescos passam para aprontar todo o desfile. Sem verbas, necessitando recolher “lixo” de outros desfiles passados, metendo a mão e criando o que deveria ser de outro profissional, como aderecistas ou pintores de arte ou até mesmo de carpinteiros. Ter destaques e composições de alegorias (tanto a pessoa como a fantasia), ter comissão de frente que não seja “quebra galho”, ter fantasias desenhadas e criadas especificamente para o desfile, ter mão de obra necessária para preparar tudo, sonho de todo carnavalesco, é uma sina destas escolas de samba sem verbas por má administração, que resvala nos artistas e profissionais, os quais sempre um ou outro ficam sem pagamento.

Esse péssimo hábito de não pagar determinados profissionais vem de longe, até mesmo das grandes escolas, desde quando ainda não existia a cidade do samba e a necessidade de profissionalização do carnaval. O mais cruel é que, geralmente são sempre os carnavalescos que ficam sem receber, apesar de pesquisar, pensar e criar, ser responsável por tudo que a agremiação apresenta no desfile. E ainda exigem determinados desenhos de figurinos de casal de mestre sala e porta bandeira, comissão de frente, alegorias e composições mesmo sabendo que não terá verba para confeccionar, além de que o artista precisará reciclar materiais de outros carnavais, tanto para fantasias como para alegorias. Se o artista não receber até o dia do desfile, não receberá mais. Podem dizer que pagarão no desfile, mas os artistas na correria de aprontar tudo, porque ainda tem essa de virar noites para terminar o desfile já na concentração, acaba não tendo tempo para acertar com o presidente, que também se faz de rogado e não procura o mesmo. Ainda é incompreensível, quitarem determinados gastos para o desfile que não tinham necessidade, como fantasias de composição de alegoria para pessoas que tenham algum interesse em se relacionar ou que tenham algum relacionamento mais chegado e deixarem de pagar, o responsável por todo o desfile que é o artista/carnavalesco, cujos valores contratados muito baixos, por respeito à agremiação e a situação da mesma. E por isso, na contratação já dizem que não tem verba para pagar o real, só ajuda de custo e que “ser carnavalesco da nossa escola vai ser bom pro seu currículo”, mas que mesmo assim nem essa ajuda de custo quita. Na verdade, os artistas tem certa contribuição pra essas situações, pois aceitam “ralar” de graça ou por custo de um “saco de pipoca”, somente pelo status na imprensa e redes sociais de ser carnavalesco.

A liga dos grupos de acessos que desfilam, estão promovendo debates para possíveis mudanças nos desfiles da Estrada Intendente Magalhães, que estão sendo reorganizados com mudanças nos grupos, regulamento, talvez até local de desfile. Esperamos que essa mudança também se faça nas relações de trabalho com todos os profissionais, não só com os artistas, mas também com os técnicos e acabem com esse péssimo hábito de todo carnaval, de não quitarem os valores que foram acordados pincipalmente com os artistas, que de tão criativos, precisam transformar uma escultura de rainha africana numa Carmem Miranda.