Primeiramente quero dizer que me senti extremamente honrado por ter recebido tal convite para escrever sobre um tema que faz parte da minha vida, no caso, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.   

Mesmo feliz, ultimamente, venho notando um perigoso declínio no que se refere a fluidez das apresentações.

Entendo que os tais “quadriláteros das alas” proporcionam uma maior plasticidade ao desfile e que voltar com as alas soltas é utopia, mas também não precisávamos chegar onde chegamos, não é mesmo?

Sim! Estou escrevendo sobre o volúvel quesito evolução!

No passado os desfiles eram longos e a bagunça era uma coisa adorável, mas foi preciso profissionalizar todos os segmentos do desfile, ou seja, melhor cronometrar, melhor concentrar, melhor dispersar e, é claro, melhor desfilar. Contudo, o atual formato dos desfiles é, no mínimo, cansativo e desrespeitoso com a proposta cultural de uma escola de samba de ser um cortejo.

Uma escola de samba pode fazer até quinze, isso mesmo, até quinze paradas durante um desfile.

 Acho feliz a ideia revolucionária, que virou padrão, trazida da Beija-Flor no que diz respeito em colocar o casal, logo atrás da comissão de frente, mas o vira-vira para a cabine dos jurados é de uma infelicidade sem tamanho.

Primeiro que somando a apresentação da comissão de frente com a do primeiro casal vão-se embora cerca de até quinze minutos do total do desfile. Segundo que o público em frente às cabines fica em desvantagem e perde o frontal da apresentação. A liga chegou a colocar até um telão, mas não é mesma coisa.

Aliás, com o aumento dos contingentes das escolas e a redução do tempo, os sambas precisaram acelerar e isso também comprometeu quesitos como harmonia e evolução.

Eu sou nostálgico! Eu ainda sonho com a volta do acesso de duas escolas com decesso de outras duas, sonho com a volta do quesito conjunto, sonho com sambas mais cadenciados, sonho com a volta das grandes comunidades, sonho com o fim dos “trambolhos alegóricos” nas comissões de frente e sonho com uma escola de samba livre, leve e solta. Aliás, a palavra chave desse quesito é justamente a espontaneidade.

Sonho meu…                                                                                                                                                                           Fica aqui o meu apelo para repensarmos tudo isso no carnaval pós-pandemia!

 

André Moreira!

Mini biografia: André Moreira é do bairro de São Cristóvão, libriano e é pesquisador de carnaval há mais de três décadas. É Técnico em Turismo, Professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro, Pós-Graduado em Sexualidade e Psicologia além de autor de dois livros no segmento cultural.