Nesses 20 anos de avenida vivi muitas e lindas experiências. Trabalhei com milhares de desfilantes em processos coreográficos ; dirigi e coreografei dezenas de Comissões de Frente no Rio e em outros estados. Supervisionei projetos sociais desenvolvidos por agremiações; criei conteúdo sobre o tema para sites e revistas,  mas nada chega perto da especificidade de se trabalhar com um casal de Mestre Sala e Porta Bandeira . Dois corpos , duas identidades, muitas vivências  que precisam convergir em uma única experiência coreográfica. 
Mas o que mais me inspira é a dedicação. Um casal que deseja permanecer na ativa não tem férias . Um trabalho finda e  esse intervalo entre carnavais muitas vezes serve para reavaliação e redirecionamento de carreira . Momento delicado de troca de parceiros ; de agremiação . Terminado isso … voltam aos ensaios. E precisam estar sempre prontos .
Faça chuva ou sol não existe saída , apresentação ou festejo sem a presença do pavilhão tremulando . E são fotos, sorrisos, mais fotos , cansaço. Brigou em casa, continue sorrindo; tá sem grana de passagem … sorria mais . Triste realidade .
Quando a Comissão de Frente começa a reunir…o casal já comemora meses de ensaios. E ensaia na quadra quando essa oferece condição. Ensaio de rua ;   . Ensaia no quintal da tia ou no terraço da amiga .  Se tiver sorte tem um ensaiador pra auxiliar . Se não aproveita o conselho de amigos , se auto corrige. E briga por pavilhão novo , por ajuda de custo,  faz parceria com academia pra auxiliar na preparação física digna de atleta . E vem  roupa de quadra. E não dá pra ficar repetindo roupa não. A escola não gosta . Mas nem sempre essa mesma agremiação  auxilia financeiramente na compra. E quando auxilia , com algumas exceções, o casal toma  um chá de cadeira ….
E cada ano um novo desafio. Uma nova fantasia . E tem que ser arrojado sem perder a tradição; e tem que ser uma dança forte sem perder a elegância . E tem que coreografar…mas não muito. E briga por bandeira nova. E ensaia com bandeira velha. E assim vão seguindo, dividindo na maioria das vezes seus horários com ” profissões ” de verdade. Pois é…vivi pra ouvir que trabalhador de Carnaval , não é profissão. Tempos difícieis esses.
Mas o casal não desanima . Ele está lá. Lutando !!!
Por isso minha total reverência ao casal. Um amigo francês uma vez me disse depois de assistir a um bailado : “cette danse est enchanteresse.”  E é isso : “essa dança é encantadora”. Continuem nos encantando com essa bailado único que precisa cada vez mais respeitado , valorizado e reverenciado. Um Bravo a todos os casais que colocam sua alma e coração ao mais tradicional dos bailados.

Marcio Moura
Diretor , ator e coreógrafo profissional . Cursou Artes Cênicas na Uni Rio e dança pelo Nós da Dança. Coreógrafo de eventos de grandes empresas , entre elas Natura; Loreal; Jeunesse; Farm, C&A…
Ator do Centro Teatral e Etcetal ,uma das mais importantes cias de teatro físico do país com a qual já foi agraciado com mais de 40 indicações e prêmios de melhor atuação em festivais nacionais e internacionais, incluindo o prêmio São Paulo e o prêmio Zilka Salaberry. Proprietário do Conservatório Brasileiro de Dança, uma das mais importante escolas de dança do país .
Participou recentemente da série ” A dona da Banca ” com direção de Marton Olympio.
Na TV Globo foi responsável pela direção de movimentos da ultima temporada de “A Grande Família” e assistente cênico de Beth Oliose no programa Criança Esperança. Diretor dos espetáculos: Xire Orixá; O último Unicórnio e Terror é coisa de criança – todos da Ore Cia Artística. Diretor do espetáculo “Lá na Gafieira “- da Giros Cia . Diretor do espetáculo solo “Emaranhados” de Amarillis Irani. Diretor do espetáculo de estreia da Circo em Nós , coletivo formado pelo Edital de Fomento ao circo da Secretaria de Cultura do Município do RJ. Completou em 2020 , 20 anos de carnaval . Já foi coreografo e diretor artístico de muitas agremiações cariocas tais como Portela, Viradouro, Estácio de Sá, Império Serrano , dentre outras . Em 2021 assume a comissão de frente da Unidos de Vila Isabel . Proprietário do Conservatório Brasileiro de Dança.